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É urgente estarmos atentos à crescente onda das doenças mentais

Penso que aqui cabe refletir sobre duas realidades que se instalaram entre todos nós. A primeira, de que as doenças da mente se avolumaram de modo preocupante por todo o mundo, com indicadores alarmantes no Brasil.

Dois episódios recentes me despertaram a atenção para uma realidade crucial, que vem assustando o mundo de uns tempos para cá, em escala intensa e crescente. Refiro-me aos adoecimentos mentais.

O primeiro caso tem como protagonista a ginasta norte-americana Simone Biles, uma forte aposta dos EUA nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que retirou-se da competição individual geral, um dia depois de ter surpreendido o mundo ao desistir do evento por equipes, ressaltando que precisava tratar da sua questão mental.

Antes de Simone, outra atleta de ponta, a superestrela do tênis Naomi Osaka, já havia destacado a imensa pressão que há sobre os atletas, levantando questões sofre se essas figuras esportivas globais recebem o suficiente apoio para mentar em nível desejado a sua saúde mental. Naomi, por questões psicológicas, já havia desistido do Aberto da França, em maio, e foi derrotada no evento de simples nos jogos de Tóquio.

Simone Biles (Foto: Tom Weller/Getty Images)Simone Biles (Foto: Tom Weller/Getty Images)

O outro caso diz respeito ao filho da cantora Walkyria Santos, Lucas, um adolescente de 16 anos, que apareceu morto dentro de casa, na região metropolitana de Natal, levando sua mãe ao desabafo de que o gesto do garoto de atentar contra a própria vida, fora consequência de pressões, achincalhes, xingamentos, maldade e desrespeito vindos das redes sociais.

“Perdi meu filho, uma dor que só quem sente vai entender. Ele postou um vídeo no TikTok, uma brincadeira de adolescente com os amigos, e achou que as pessoas iriam achar engraçado, mas as pessoas não acharam, como sempre, as pessoas destilando ódio na internet. Meu filho acabou tirando a vida. Eu estou desolada, eu estou acabada, eu estou sem chão”, disse ela.

Em nota, o Tik Tok disse: “Estamos profundamente tristes com esta tragédia. Temos como nossa principal prioridade dar apoio ao bem-estar da nossa comunidade e fomentar um ambiente acolhedor e inclusivo, onde todos se sintam seguros para se expressar de forma autêntica. Comentários de ódio, que violam nossas políticas e prejudicam nossa comunidade, são removidos da nossa plataforma. Também trabalhamos com especialistas, como o CVV, para dar apoio e oferecer recursos para qualquer pessoa que possa estar passando por um momento difícil. Enviamos nossos sentimentos mais sinceros para a família e amigos do Lucas”.

A verdade, porém, é que Lucas já não vive neste plano, interrompendo de maneira trágica todos os seus sonhos e uma vida que tinha tudo para ser bela e promissora, e deixando marcas irreparáveis entre seus familiares e amigos.

Foto: Reprodução/ Redes Sociais)Foto: Reprodução/ Redes Sociais)

Penso que aqui cabe refletir sobre duas realidades que se instalaram entre todos nós. A primeira, de que as doenças da mente se avolumaram de modo preocupante por todo o mundo, com indicadores alarmantes no Brasil. A combinação entre a depressão e a síndrome do pânico nasceu de um cenário preocupante no mundo trabalhador brasileiro, com o adoecimento mental já se constituindo a terceira maior causa de afastamentos do trabalho. Complementando essa estatística, que cerca de 9% da população brasileira sofre com alguma forma de doença mental.

Essa advertência que nos faz a professora Edelvais Keller, titular do curso de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG). Ela explica que ansiedade é um fenômeno natural na vida humana, importante para nossa sobrevivência, se ocorre em níveis saudáveis. “Ela passa a ser doença quando impede a pessoa de viver normalmente, socializar e trabalhar.”

Ela chama atenção também para a depressão, um dos transtornos mentais mais frequentes, que impacta cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, conforme dados da OMS. “Essa doença é marcada pela inércia do indivíduo, pela ausência de motivação e disfuncionalidade. Apesar de frequente, o preconceito, a falta de apoio e o medo de julgamentos ainda dificultam a busca por tratamentos adequados.”

A importante pesquisadora norte-americana Márcia Algell, no seu implacável livro “A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos”, nos traz um dado estarrecedor :

“Parece que os americanos estão em meio a uma violenta epidemia de doenças mentais. A quantidade de pessoas incapacitadas por transtornos mentais, e com direito a receber a renda de seguridade suplementar ou o seguro por incapacidade, aumentou quase duas vezes e meia entre 1987 e 2007 – de 1 em cada 184 americanos passou para 1 em 76.

No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso: um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas. A doença mental é hoje a principal causa de incapacitação de crianças, bem à frente de deficiências físicas como a paralisia cerebral ou a síndrome de Down.”

É urgente estarmos atentos à crescente onda das doenças mentais (Foto: Reprodução)É urgente estarmos atentos à crescente onda das doenças mentais (Foto: Reprodução)

Esses adoecimentos mentais, que já vinham numa escalada preocupante, ganharam novos contornos e auxílios indesejáveis com o advento da pandemia do Coronavírus, que levou as famílias ao necessário isolamento social, e trouxe outros danos determinantes às pessoas, como a perda do emprego, a diminuição da renda, a interrupção das aulas escolares. Tudo servindo para acrescentar um pontinho a mais de dissabor.

A outra reflexão que se torna imperioso fazer, é sobre as doenças trazidas pelo mau uso da Internet e suas redes sociais. Se é importante e necessário estarmos atentos aos transtornos mentais daqueles que estão no meio, percebendo alteração de tipo intelectual, emocional e ou comportamental que podem dificultar a interação da pessoa com seu ambiente, é necessário também se ater às doenças que a própria inadequação quanto ao uso da própria internet.

A ciência já nos aponta que doenças são essas que o mau uso da Internet está deixando entre nós: Nomofobia, Síndrome do Toque Fantasma, Náusea Digital, Depressão do Facebook, Vícios de Jogos Online, Hipocondria Digit, Efeito Google, Síndrome da Visão do Computador. Transtorno de Dependência da Internet.

Além, certamente, de uma estúpida dosagem de ódio, desrespeito, intolerância, egoísmo e maldade.

FONTE: Meio Norte

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