São 40 mil pessoas na fila nacional de transplantes de órgãos. Um número grande, que poderia ser atenuado com políticas públicas mais eficazes, além de um sentimento que tem faltado: a solidariedade. Segundo dados da Associação Brasileira dos Transplantados, 80% das famílias piauienses negam a doação de órgãos de parentes com morte encefálica.
Paralelo a isso, o Estado não realiza transplantes desde maio por falta de estrutura no Hospital Getúlio Vargas. A situação se arrasta há seis meses, ainda sem perspectiva de resolução.
O panorama é de Gabriela Noronha, que fez transplante de fígado e hoje é membro da Associação Brasileira dos Transplantados. “No Brasil ainda temos uma negativa familiar muito grande. A maioria ainda fala não para a doação. É um grande desafio mudar esse quadro. O Piauí tem uma das maiores negativas do Brasil, 80% dizem não”, conta.
Outro problema é a falta da medicação para evitar que o corpo rejeite o órgão transplantado. “A falta do medicamento pode levar à perda do órgão e a morte mesmo. Nós, da Associação, fazemos o acolhimento no pós-operatório, principalmente incentivando a prática de exercícios físicos”, aponta Gabriela.
O Hospital Getúlio Vargas não está fazendo este tipo de procedimento no momento. “É o hospital de referência, mas tem mês que faz e tem mês que não faz, por falta de insumos. Às vezes falta medicação para o pós-transplante, coisa que é imprescindível para a vida. O sistema precisa estar todo conjunto”, conta.
Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação do HGV nega que está sem transplantes há seis meses e que os transplantes de córnea estão acontecendo normalmente. Este ano foram realizados 90 transplantes de córnea e oito de rim. No entanto não ficou claro qual serviço está paralisado desde maio.
Alexandre Barroso: um testemunho necessário
Desenganado por médicos e sobrevivente em hospitais públicos e particulares, o publicitário Alexandre Barroso, portador do vírus da Hepatite C, durante 20 anos, teve como diagnóstico, em 2008, fibrose, necrose e três nódulos de câncer no fígado. Hospitalizado durante quatro anos, entre a vida e a morte, enfrentou ainda 11 cirurgias, 21 comas cerebrais (encefalopatia), oito meses de hemodiálise e um coma profundo de três dias.
Hoje ele vive de forma saudável, com uma história que vale a pena ser contada. “40 mil pessoas estão na fila de espera, à espera de um sim. É preciso conversar com a família, anunciar a vontade e todo mundo ter consciência disso. Em caso de morte encefálica, a família que deve fazer essa autorização”, conta.
Desde 2018, Barroso é parceiro da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR) na Jornada Asas do Bem, com uma série de palestras que destaca a importância da doação de órgãos e a contribuição da aviação para viabilizar os transplantes. Até o momento, ele já visitou 11 Estados e o Distrito Federal, reunindo mais de 1,8 mil pessoas em eventos realizados por hospitais, centrais de transplante e iniciativas sociais. Ele esteve em Teresina na última sexta-feira (1º).
E explicou que a fila nacional é uma só. “Às vezes há um órgão no Acre e o receptor está no Maranhão. A Central de Transplantes faz a captação, e o primeiro avião que estiver na pista leva o órgão com mais prioridade que o presidente. Imagine que os órgãos são perecíveis. Um coração dura quatro horas, um fígado seis, um pulmão quatro… É uma corrida contra o tempo que as empresas abraçaram. São 9 mil transportes realizados por ano, com 98% de transportes com sucesso. Tem voo que atrasa por conta de um órgão, ou mesmo a aeronave retorna ao aeroporto para transportá-lo”, finaliza Alexandre Barroso.
FONTE: Meio Norte