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Alcoolismo: o desafio de reconhecer o problema e buscar tratamento

O Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo é comemorado anualmente em fevereiro

O ato de tomar uma cervejinha no final de semana pode parecer inofensivo, mas, ao longo do tempo, esse hábito pode se tornar algo preocupante que afeta não só a saúde individual, mas a sociedade como um todo. O consumo excessivo de álcool é algo mais do que normalizado em nosso país, e o uso contínuo dessa bebida – que muitos não encaram como droga – é capaz de destruir famílias e vidas profissionais.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), uma em cada três pessoas consome bebidas alcoólicas pelo menos uma vez por semana. O gasto com o álcool também é exorbitante. Dados do IPC Maps informam que, em 2023, as famílias brasileiras gastaram cerca de R$ 33,4 bilhões em bebidas alcoólicas.

Considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e também um dos principais problemas de saúde pública no Brasil, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas é uma realidade que afeta cerca de 18,8% dos brasileiros.

Dia nacional de combate ao Alcolismo - (Nathalia Amaral/ O DIA)Nathalia Amaral/ O DIA

Dia nacional de combate ao Alcolismo

Ainda que um grande número de brasileiros abuse das bebidas alcoólicas, os mesmos não vêem isso como um problema. Segundo o levantamento divulgado pelo Centro de Informações sobre Saúde do Álcool (CISA), 75% dos consumidores abusivos de álcool acreditam ser consumidores moderados.

Para conscientizar a população sobre essa questão, o país celebra anualmente o Dia Nacional do Combate ao Alcoolismo, em 18 de fevereiro. A data, instituída em 1984 por meio da Lei nº 7.102, visa orientar as pessoas sobre os riscos associados ao alcoolismo e incentiva a busca por tratamento por parte daqueles que sofrem com a dependência.

O que faz um indivíduo se tornar alcoólatra?

Afinal, o que leva uma pessoa alcoolismo? O psicólogo especialista em dependência química, Petrus Tôrres, explica que os fatores são variados. Ele reforça que traumas de infância, frustrações, depressão e ansiedade estão diretamente ligados ao abuso de álcool.

“As causas são diversas, mas sabemos que cerca de 60% dos casos têm um fator genético. Durante o uso, drogas como o álcool liberam no cérebro neurotransmissores como a dopamina e serotonina, que ativam centros de prazer e ocasionam uma sensação de bem estar e euforia. Então, muitos usam o álcool como um mecanismo de fuga”, afirma o psicólogo.

Petrus TôrresPsicólogo

O especialista enfatiza ainda que o uso excessivo de álcool a longo prazo pode aumentar a agressividade do indivíduo, assim como causar bruscas variações de humor, insônia e pensamento suicidas. “O homem tem duas vezes mais propensão a se tornar alcoólatra uma vez que, com o consumo de álcool, o cérebro masculino produz uma quantidade maior de dopamina, o que danifica o córtex pré – frontal e outras áreas que regulam as nossas respostas emocionais”, informa.

Dia nacional de combate ao Alcolismo - (Marcelo Camargo/Agência Brasil)Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dia nacional de combate ao Alcolismo

Outros efeitos do álcool no cérebro humano incluem redução da concentração, atenção e memória, distribuídos mentais e comportamentais, além de patologias como cirrose hepática, câncer e doenças cardiovasculares. “O alcoolismo também gera consequências como violência, mortes e acidentes de trânsito”, acrescenta o psicólogo.

“O tratamento deste sério problema deve começar com o reconhecimento e aceitação de que se tem uma doença a tratar. É preciso perceber alterações do comportamento em decorrência do álcool, como perda de controle emocional e físico, além do desejo compulsivo por mais álcool. Isso pode ocasionar sintomas como tremores físicos, vômitos, cefaléia, tontura, irritabilidade, fraqueza e depressão.”

“O tratamento envolve terapia, aconselhamento de um profissional de saúde, um programa de desintoxicação em um hospital ou clínica médica. Também existem medicamentos disponíveis que reduzem a vontade de beber, além de psicoterapias individuais e em grupo. No Piauí, existem casas de apoio e associações terapêuticas que são de grande valor nesse processo de ressocialização”, finaliza Petrus Tôrres.

Para sair do alcoolismo, é preciso se reconstruir

“Foi como sair do inferno”. Essa pequena mas impactante frase foi dita por Gilson, um ex-professor teresinense de 60 anos que vivenciou o alcoolismo durante metade da sua vida. Desde 2011 ele tem travado uma batalha contra o problema e, hoje, celebra 13 anos livre do consumo de álcool.

“Consumi bebida alcoólica por 30 anos seguidos, desde o início da minha vida adulta. No começo era só uma cerveja no final de semana, até virar rotina. Eu bebia para dormir e acordava para beber”, lembra Gilson.

O vício trouxe à vida de Gilson incontáveis consequências em suas relações familiares, sociais e profissionais. Ele chegou a perder empregos devido ao fato de faltar ao trabalho por estar alcoolizado demais para estar presente. “Nunca consegui recuperar o emprego que perdi e nunca mais fui contratado. Essa consequência infelizmente ainda não superei”, relata ele.

Gilson conta que o primeiro passo para sair do alcoolismo foi aceitar que era um alcoólatra. Ao contrário do que é recomendado, o ex-professor não procurou auxílio médico ou tratamento. Ele venceu o vício sozinho, mas com o apoio da sua família.

“Por mais que as pessoas nos digam que precisamos de tratamento, o alcoólatra não quer admitir a verdade. As coisas chegaram a um ponto em que eu precisei ser sincero comigo mesmo. Eu não fiz um tratamento convencional, procurei abandonar a bebida e aguentar os efeitos daquilo”, disse.

Mesmo com muita força de vontade, o processo de cura não foi nada fácil. “Os primeiros dias de abstinência são infernais, pois nosso organismo e nosso cérebro estão encharcados de álcool. Eu sofri diversas alucinações no início. Muitos chegaram a me dizer que só um milagre me faria parar de beber, mas comecei a me reconstruir”, acrescenta.

Dia nacional de combate ao Alcolismo - (Pixabay)Pixabay

Dia nacional de combate ao Alcolismo

Quem venceu o alcoolismo pode beber socialmente?

Para muitas pessoas que lutaram contra o alcoolismo, o retorno ao consumo de álcool pode desencadear uma recaída, levando a um novo padrão de consumo compulsivo e prejudicial.

Por isso, muitas pessoas que venceram o alcoolismo optam por uma abstinência total de álcool, evitando completamente situações em que o consumo de bebidas alcoólicas seja uma tentação.

Para o psicólogo Petrus Tôrres, por ser um transtorno mental, o tratamento contra o alcoolismo precisa ser levado a sério. Sendo assim, é interessante evitar a recaída.

“O princípio do ‘só por hoje’, muito comum em associações como os ‘Alcoólicos Anônimos’, fortalece o compromisso de se manter sóbrio e consciente por mais 24 horas. No entanto, não há garantias de que a recaída não ocorra, pois, como mencionei anteriormente, existem vários fatores envolvidos”, afirmou o especialista.

O ex-alcoólatra Gilson destaca que precisa se manter sempre vigilante. “Eu não penso em voltar, porque é como sair do inferno”, concluiu.

Portal O Dia

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