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Uma história formada em meio às lutas que resultou em um exemplo a ser seguido

Fé, luta, perseverança, sonho, força de vontade, essas são algumas das palavras que bem definem pessoas que acreditam e correm atrás daquilo que almejam conquistar, pessoas que apesar das dificuldades não se deixam abater e continuam firmes em seus propósitos.
Essas características são exemplificadas na pessoa da jaicoense Luzinete do Nascimento Carvalho, a “Netinha”, como carinhosamente a chamam. Filha mais velha do casal Benedito Carvalho (Em memória) e Josefa Nascimento, uma família de origem humilde. Luzinete cresceu no interior, em meio às dificuldades, ela trabalhava ajudando seus pais, mas também se dedicava em seus estudos.
Da esquerda para a direita, Luzinete, sua mãe Josefa, seus irmãos Maria e  Edilberto e seu pai Benedito.  Foto: Arquivo pessoal
Roça onde Luzinete e sua família viveram durante anos.
“Eu sempre fui uma pessoa que gosta muito do interior, fui criada na roça, trabalhava para ajudar meus pais, estudava, ia de casa para o colégio a pé. Ás vezes era cansativo, mas eu ia sempre com coragem, com alegria e consegui terminar meus estudos até o 2º grau, como era chamado naquela época. Com muita dificuldade, mas consegui” disse ela.
Ao terminar a 4º série, não havia escolas públicas em sua cidade para que ela pudesse continuar seus estudos, mas com muito esforço, seus pais conseguiram uma bolsa para que a filha prosseguisse.
“Quando terminei a 4º série já tinha que ingressar em uma escola particular para iniciar o Ginásio (5º ao 8º ano), como chamavamos antes. Então ficou mais difícil ainda porque meus pais não tinham um serviço certo, apenas trabalho braçal da roça, não era todo dia que achava um dia de serviço e tinha que pagar o colégio. Mesmo assim, meu pai conseguiu uma bolsa e eu ingressei.Com dificuldades, as vezes dava vontade de parar por causa do problema com o dinheiro, mas a vontade continuava e meu desejo era continuar e aprender mais e mais.”Ela estudou durantes dois anos em escola particular, até que abriu um colégio estadual na cidade, onde terminou o Ensino Fundamental. Ela conta feliz que em todos esses anos de estudo nunca foi reprovada.

“Estudei apenas dois anos no particular. Depois, graças a Deus, consegui mudar para o estadual, mas as séries que eu fiz em todas passei direto, nunca fiquei reprovada em um ano. Então, na sétima série fui para o estadual, a escola era ainda mais distante de onde morava, mas consegui continuar. E novamente, sem ser reprovada, concluí o Ginásio”.

Quando concluiu o ensino fundamental, mais uma vez ela se vê sem opção de local para estudar em sua cidade, então ela opta pelo município vizinho de Picos-PI, pois insistia em concluir os estudos para conseguir realizar um sonho: ser professora.

Mas, naquele tempo, para cursar o Ensino Médio, era feita uma seleção entre os alunos pois havia apenas uma escola que atendia a várias cidades. E na primeira tentativa, ela não conseguiu ser selecionada e teve que ficar um ano sem estudar, mas se dedicou ainda mais para na próxima oportunidade ser aprovada.

“Não consegui ser selecionada na primeira prova de qualificação, então fiquei uma ano todo sem estudar, achei muito ruim, mas nesse tempo todos os cursinhos gratuitos que apareciam eu fazia, todo livro que encontrava eu ia estudando para aprender mais e passar no próximo teste. Também tive ajuda de uma conhecida que me deu aulas, a Aurenir, e me ajudou muito. Então consegui passar na segunda prova e ingressei na Escola Normal (Ensino Médio)”.

Ela explica que para estudar se deslocava todos os dias para Picos, saia ás 17 horas e estava de volta somente ás 23, que a escola era gratuita, mas seu pai tinha que pagar um transporte todos os meses. Ela estudou um ano na cidade, e então abriu uma escola na sua cidade e ela voltou a estudar em Jaicós, mas pouco tempo depois, seu pai consegue um emprego em Picos e eles se mudam e voltando a estudar na mesma escola ela conclui o Ensino.

Após isso ela casou-se, teve três filhas, mas passados alguns anos se separa e passa a criar as filhas sozinha.

Casamento de Luzinete com José Bezerra.
“Quando conclui a Escola Normal casei, tive três filhas. Passados alguns anos, meu marido começou a querer separar. Ficava 4 meses na casa da mãe, 5 meses em casa até que resolvemos separar de vez. Então fiquei criando minhas filhas, Deus foi quem criou elas comigo, com a ajuda dEle consegui. Teve dias que tive medo de deixar elas passarem fome (fala em lágrimas), mas Deus é maior, graças a Ele hoje sou uma vencedora. Consegui um emprego e até hoje ajudo elas e elas me ajudam. E eu me sinto vencedora hoje, tenho como sobreviver, foi custo do meu suor”, explicou emocionada.
Depois de se estabilizar, e morando novamente em Jaicós, ela continua em busca do seu sonho e inicia sua graduação no curso de Pedagogia com habilitação em Magistério, na Universidade Estadual do Piauí, em Picos.
Luzinete, já formada no curso de Pedagogia.
“Fiz um curso de Graduação já depois com minhas filhas, quando já estava trabalhando foi mais fácil para continuar os estudos. Continuei estudando em Picos, nos períodos de férias eu ia todo dia, procurei uma moça para deixar com minhas filhas que eram pequenas e ela cuidava muito bem delas, graças a Deus. E eu consegui terminar, hoje sou formada no curso de Pedagogia e me considero uma vencedora. Levanto as mãos para o céu porque minhas filhas me obedecem até hoje, foram criadas só por mim, mas Deus deu sabedoria a elas e desde pequena sempre me obedeceram e até hoje são boas filhas. E assim vamos levando nossa vida. Ainda temos um pouquinho de dificuldade, mas não como no começo, quando não tinha emprego nenhum. Mas Deus me ajudou, consegui e agora agradeço a Deus. Mesmo tendo me separado agradeço a Deus por ter casado porque fiquei com a herança das minhas três filhas e sou bem acompanha por elas até hoje”.
Parte da turma em que ela se formou no ano de 2003.
Todo o esforço de Luzinete valeu a pena, apesar das dificuldades ela conseguiu realizar seu sonho e hoje é um exemplo para as suas filhas que seguem na mesma direção, se dedicando nos estudos. A mais velha já formada e iniciando um Mestrado, as outras duas na reta final de seus cursos de graduação.
Formatura da filha mais velha de Luzinete.
“E hoje minhas filhas estudam. Estão seguindo assim como eu segui antes, com dificuldades, mas levando em frente seus estudos e sempre obedientes a mim. E eu peço a Deus todo dia para que elas prossigam assim. Eu acredito que os filhos que são obedientes aos pais Deus ajuda” finalizou.
Luzinete, seu atual marido, as três filhas e seu neto.

FONTE: Blog Uespi Cidadã

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