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Suicídio e redes sociais: não potencialize o problema

Não falar não é não tratar! É não potencializar novos casos.

Mais um caso de suicídio entrou em pauta nas redes sociais/digitais do Piauí. Dessa vez, uma jovem de 33 anos na grade de proteção da ponte Juscelino Kubitschek, a principal ponte da capital do Estado. Ela foi abordada por um transeunte que viu a jovem naquela situação e tentou contato. Penso eu que com toda a boa vontade de ajudá-la. Ao passo que se coloca à disposição para o diálogo, a abordagem e os demais acontecimentos são filmados e consequentemente enviados em aplicativos de mensagens instantâneas.

Temos dois pontos para o debate: o suicídio (em Teresina isso acontece com frequência principalmente entre os jovens) e a abordagem seguida de filmagem.

Sobre o suicídio ainda é expressamente manifestado:  “falta de Deus”, “falta de apoio da família”, “culpa das redes sociais”. Talvez um tanto irresponsável, egoísta ou reduzido.

Apenas em Teresina, já tivemos casos de suicídio em que a jovem sabia e sentia o quanto era amada e acolhida pela família, tinha um relacionamento sólido e pacífico com o companheiro, contando ainda com a realização profissional. Já registramos também casos em que o individuo era ligado à religião, com participação atuante em grupos e movimentos da igreja.

NINGUÉM sabe o que realmente se passa na cabeça de um suicida com coragem para cometer o ato. Exceto se livrar da dor (e através da religião a gente aprende que a dor é na alma, que não cessa com o rompimento da vida. Na abordagem humanista a gente entende também que a dor pode passar com tratamento adequando).  O tratamento é recomendado para TODOS OS INDIVÍDUOS que pensam em cometer ato contra a própria vida.

Teorias e realidades

Existe uma corrente teórica tentando relacionar os casos de suicídios em Teresina com o calor da cidade. Não sei qual argumento comparativo para desconsiderar as temperaturas no estado do Arizona (EUA). Também não identifiquei o argumento ponderativo com o frio da Suíça, país com um dos maiores números de suicídios do mundo.

Outra corrente (e nessa posso dar meu palpite teórico com mais propriedade) coloca as redes sociais (mídias digitais) como campos para não identificação de um individuo.

Podemos até considerar que seja um paradigma da sociedade moderna. Mas não esqueçam que antes de  mídia digital existir, o mundo já contava com casos de rompimento provocado da vida. De certo, alguns meios midiáticos da época foram proibidos de circular, por associarem ao ato e entender que o conteúdo e motivações de um caso provocariam outros casos. Um desses conteúdos é o famoso livro “os sofrimentos do Jovem Werther”, atualmente encontrado com facilidade em livrarias ou sebos. Na época (1774), vários jovens se viram representados no personagem de Goethe e assim como ele tomaram a mesma decisão em relação ao amor não correspondido.

Quando percebemos o que Durkheim nos coloca e pontuamos que a “a mídia provoca o suicídio”, podemos interpretar o efeito cascata das motivações.  Ao declarar que “Fulano tinha muitas dívidas e por isso se jogou da ponte”, potencializa pessoas que estão com problemas financeiros a procurarem a mesma “solução” para o problema, entendem?

O mesmo exemplo se aplica a problemas no relacionamento afetivo, profissional, familiar, sexual… São respostas que algumas pessoas tentam encontrar, mas é preciso cautela para que essas perguntas não provoquem o “efeito cascata”. Por isso, a recomendação para que a mídia não publique casos de suicídio. (Além do código de ética do jornalista brasileiro proibir).

Até onde li sobre o assunto (não sou profissional da área psico), o suicídio requer o desejo de matar, ser morto e morrer. A vontade de “sumir”. Envolve fatores químicos, biológicos, e sociais exigindo também predisposição da vítima. Não vamos apontar culpados. Menos ainda julgar.

Registro de abordagem

Na rede social favorita, muitos apontaram a atitude da pessoa que filmou sua abordagem à vítima. Assim como a jovem, ela deve ter suas motivações. Até o momento, não sabemos quem foi e deletei todos os vídeo que recebi. Sem julgamentos.

“A abordagem não foi correta”. E veja que favor ela nos fez? Agora sabemos COMO NÃO FAZER.

Como vítima de situações de emergência digo com propriedade que a última coisa que a gente faz nesse momento é ser racional. Exceto se for um profissional. Inclusive já tivemos casos de abordagem bem sucedida feita por profissionais.

Com isso, entendemos que ao presenciar situação de possível suicídio, a orientação mais eficaz é acionar os meios mais preparados para lidar com essa situação, certo? Bombeiros e Centros de Valorização da Vida recebem ligações gratuitas de todos os lugares.

Enquanto isso? Tentar falar o mínimo possível. Não filmar também. Por motivos de legalidade, empatia e bom senso.

Não falar não é não tratar! É não potencializar novos casos.

Que todos os grupos de pesquisa, estudos, saúde pública e principalmente familiares envolvidos nesse assunto, encontrem os suportes necessários.

Como cidadãos, também somos responsáveis!

FONTE: Oito Meia

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