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‘Prefeita ostentação’ usava apenas o WhatsApp para administrar a cidade

Quem chega ao município de Bom Jardim, no Maranhão, logo percebe o retrato de desesperança de uma população que há anos vem sofrendo com os descasos do poder público. A cidade maranhense ficou conhecida no Brasil inteiro após uma operação da Polícia Federal que pretendia prender a prefeita Lidiane Leite (PP), que fugiu, deixando uma população de quase 40 mil habitantes sem gestor.

Cinco horas de viagem pela BR-316 separam o município de Bom Jardim, no Maranhão, de Teresina (PI). Ao chegar a cidade, não é difícil perceber que há muito tempo o poder público deixou de atuar. Os problemas não são somente aqueles que são possíveis verificar com os olhos, mas uma geração está ameaçada, principalmente pelo descaso com a educação.

Nascida em 1990, com o nome de Lidiane Leite da Silva, era de uma família humilde. Assumiu a prefeitura em 2013 após um esquema de poder que a elegeu por pouco mais de 200 votos. Ela aderiu o nome ‘Rocha’ por causa do seu ex-namorado, Beto Rocha, que foi preso na operação. Em menos de três anos como prefeita, uma das mais novas do Brasil, conseguiu atrasar de forma significativa a qualidade de vida dos moradores, enquanto a sua, se tornou de pura ostentação da noite para o dia.

Lidiane Leite é procurada pela polícia

Lidiane Leite é procurada pela polícia

A realidade da população de Bom Jardim não é diferente da de muitos piauienses, que convivem cotidianamente com as mazelas dos municípios, enquanto seus gestores esbanjam luxo. Educação precária, saúde sucateada, falta de infraestrutura básica para os moradores são apenas alguns dos exemplos encontrados nestas cidades.

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UMA PREFEITA AUSENTE
Quando chegamos a Bom Jardim, paramos próximo a um grupo de rapazes às margens da BR-316 e questionamos a um deles qual a situação da cidade. Com um sorriso irônico, disse-nos que a situação não era muito boa. “A prefeita sumiu, né. Ninguém sabe onde ela foi. Muitas pessoas que trabalham na prefeitura estão sem receber o salário. Não sabemos o que pode acontecer”, afirmou.

Perguntei qual a última vez que ele viu a prefeita, nem ele soube responder. “Rapaz, acho que a última vez que ‘vi ela’, nem era prefeita ainda. Depois que assumiu, a mulher mudou, desapareceu daqui”, sorriu.

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PREFEITURA ISOLADA
Desde que fugiu, a cidade vive em clima de incertezas. Fomos à prefeitura e um idoso que parecia vigiar o prédio às margens da BR nos recebeu. Ele disse que apenas o secretário de administração estava lá, mas que ele não iria falar com ninguém. Questionei se a prefeitura estava funcionando normalmente e ele disse que mais ou menos, que os servidores iam mais pela manhã.

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PREFEITA DO WHATSAPP
Continuamos a conhecer a cidade pelas ruas sujas e mal calçadas, isso quando havia calçamento. O esgoto corre a céu aberto em maior parte da cidade e o mato toma de conta dos espaços inabitados. Um completo abandono. Os prédios públicos careciam de uma simples pintura. Por onde passávamos a curiosidade das pessoas chamava a atenção. Todas elas sabiam o que nos levavam ali. Queriam contribuir de alguma forma.

Em uma de nossas paradas, uma mulher chegou até nós. Fizemos alguns questionamentos e ele mostrou conhecer bem as práticas da prefeita. Não era para menos, ela disse que havia trabalhado diretamente com ela. “Sei muito bem o que eles faziam. Para começar ela quase nunca vinha aqui. Quando vinha era para se mostrar. Ficava mais em São Luís ou em São Paulo. Eles possuíam um grupo no WhatsApp chamado ‘Força Tarefa’, lá estavam todos os secretários e pessoas próximas da administração”, confessou.

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GRUPO ESPECIALIZADO NA DEFESA
“Tudo da prefeitura era resolvido por este grupo. Mas na verdade o principal objetivo era defender a prefeita e denegrir a imagem de qualquer pessoa que reclamasse da gestão dela. Qualquer pessoa que fosse contra a prefeita era exibida no grupo e ridicularizada de todas as formas. O grupo armava estratégias para tentar difamar nas redes sociais estas pessoas”, disse a mulher que pediu para não ser identificada.

ASSÍDUA NAS REDES SOCIAIS
A prefeita foi duramente criticada nas redes sociais pelas suas práticas nada convencionais de expor tanta ostentação em seus perfis, enquanto na cidade a população carecia do básico. Ela sempre tinha a resposta na ponta da língua para responder às críticas, sempre com bordões que são mais conhecidos por cantoras de funk, em várias postagens divulgadas pela imprensa, como ‘beijinho do ombo’.

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APENAS O COMEÇO
O 180 esteve no município de Bom Jardim e conferiu a situação crítica que o povo é obrigado a viver. Como dito antes, a situação não é nem o começo de várias irregularidades encontradas pela reportagem. Nas próximas matérias você vai conferir como os prefeitos agem para desviar dinheiro público em beneficio próprio e como usam o próprio poder judiciário para manterem-se no poder.

Lidiane Leite continua foragida, e apesar dos boatos que advogados e seu namorado estariam negociando para ela se entregar, ainda não há informações sobre sua apresentação à Polícia Federal em São Luís.

POR: Jhones Sousa / 180 Graus

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