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CRÔNICA: A chacina de Alegrete do Piauí: só quem não morreu foi a impunidade

Alegrete do Piauí é uma das mais de duzentas cidades do interior piauiense. Dessas que, infelizmente, a gente só ouve falar quando ocorre uma tragédia. O município, de pouco mais de 5.200 habitantes e forte presença rural, não tem atrações turísticas. É bem pobre e distante de Teresina (fica a 388 quilômetros a Sudeste da capital). Mais distante está das atenções de saúde, educação e segurança.

Não tem hospital. Se quebrar um dedo tem de ir para Picos (quase cem quilômetros de distância). A cidade já teve até pólo da UESPI, mas foi desativado. E é guarnecida diariamente apenas por dois PMs.

Local da chacina de Alegrete do Piauí: mais um caso gerado pela impunidade. Foto: Polícia Militar do Piauí

Mas, ao menos pelos próximos dois, três, dias a cidade ganhará manchetes e até notoriedade nacional. Pena, assim como quase todos os municípios de nosso estado ao adentrarem no noticiário, por conta de uma tragédia. Aliás, mais uma tragédia. Mais uma que mexe com a curiosidade das pessoas e que já já cairá no esquecimento.

Como quase todo mundo está sabendo uma pequena e isolada comunidade da zona rural deAlegrete do Piauí foi palco da pior chacina do ano no Piauí e uma das piores do Brasil este ano. Seis pessoas da mesma família foram mortas. Não sobreviveu ninguém. Só quem está mais que viva é a impunidade, a principal explicação para o enredo da tragédia, ainda cercada de mistérios.

Mas, pode ter certeza, quem matou friamente aquela família sabia que pôde fazer aquilo porque raramente pagará pelo crime. Maior certeza é que se passar alguns dias na cadeia o moroso sistema judiciário será engabelado para que haja soltura.

O que aconteceu em Alegrete do Piauí não é novidade na região, já apelidada, junto com as vizinhas São Julião, Fronteiras, Pio IX, Marcolândia e Simões (na divisa do Piauí com o Ceará ou Pernambuco) de Terra da Pistolagem. Sem querer rotular, diria: mais uma Terra da Impunidade.

Mata-se alguém na região na mesma facilidade que se abate um passarinho. A bala impera e ai de quem tentar denunciar. A bala come mais solta ainda. Para quem ofende com menos ênfase é comum mandar um aviso com uma singela carta com uma bala de revólver. É o convite para muitas e muitos deixarem a região. E, ai de quem não deixa. O caminho termina sendo quase certo: cemitério.

Uma visita a qualquer um dos cemitérios da região provará que há várias vítimas da violência. Raridade é encontrar algum desses crimes em que os autores foram punidos. Pois, em cidade pequena, todo mundo sabe dos passos de todo mundo, mas botar a boca no trombone são outros quinhentos, ou uma cova de presente.

Por isso a impunidade é quem mais sobrevive e quem mais ganha corpo na região. Alegrete, há mais de cinco anos, não tem delegado e nenhum agente da Polícia Civil. Qualquer denúncia policial tem de ser feito a 49 quilômetros de distância, na cidade de Fronteiras, que tem um corpo policial também inadequado e sofre com a pistolagem.

Dona Morte manda lembranças e faz a festa com Dona Impunidade.

Já já Alegrete do Piauí volta ao anonimato e, não duvidem, se uma nova tragédia, agora para vingar os seis, não apareça novamente nas páginas policiais.

POR: Professor Orlando Berti / O Olho

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