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Luto| Falece em Jaicós, João da Cruz Barbosa, fundador do Povoado Várzea Queimada

Faleceu na tarde deste sábado (23) por volta das 2h45min, no Hospital Florisa Silva, o Senhor, um dos fundadores do Povoado Várzea Queimada, zona rural do município de Jaicós.

João da Cruz Barbosa, nasceu em 24 de março de 1940 no Povoado Várzea, filho de Manoel Sebastião Barbosa e Maria Rosa da Paixão; casou-se em 11 de setembro de 1960 aos 20 anos de idade com Isabel Maria de Jesus, com quem teve 15 filhos: Julia Maria Barbosa, Joana Maria Barbosa Viana, Anastácio da Cruz Barbosa, Mudestina Maria Barbosa, Lucina Maria Barbosa, Mauro da Cruz Barbosa, Silvina Isabel Barbosa, Reginaldo da Cruz Barbosa, Sorlândia Isabel Barbosa, Mônica Isabel Barbosa, Leoclécia Isabel Barbosa, Eusébio da Cruz Barbosa, Isidória Isabel Barbosa, Cecílio da Cruz Barbosa, Elisabete Isabel da Cruz Barbosa, tem 45 netos e 13 bisnetos.

Trabalhou como agricultor com seu pai, com que aprendeu a profissão de vaqueiro, profissão esta que desempenha desde aos 10 anos de idade, ajudando seu pai e após casar-se ajudando também seu sogro.

Foi um dos fundadores do Povoado Várzea Queimada, pois quando chegou lá não havia nenhuma residência; fez a doação de vários terrenos para a construção de benfeitorias no Povoado, como a construção de escola, igreja, praça e creche.

João da Cruz foi um dos idealizadores da festa dos Vaqueiros, visando manter à tradição do vaqueiro nordestino, que hoje é reconhecida como profissão. A festa entrou para o calendário cultural do município de Jaicós através da Lei n° 1.000/2016. A festa foi idealizada com João da Cruz, Edmundo Ricardo e José Teixeira, com o intuito de promover o fortalecimento cultural e econômico do Povoado.

O antropólogo Éverton Luis Pereira homenageou o Senhor João da Cruz Barbosa em mensagem enviado a este Portal. Éverton é professor da Universidade de Brasília (UnB) e defendeu sua Tese (doutorado) na Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, a partir de pesquisa e convivência na Comunidade de Várzea Queimada. Confira mensagem abaixo:

Para Dona Zefa e Seu João

Nasci algumas vezes. Sobre uma delas quero contar aqui. Foi quando morei em Várzea Queimada. Lugar incrível, com pessoas que admiro e mantenho contato até hoje. Lugar de um povo que sabe que o que interessa é a forma como compartilhamos nossas felicidades, tristezas e desejos de mundo.

Peço licença para falar sobre duas pessoas incríveis que conheci nessa jornada: Dona Zefa e Seu João. Infelizmente, os dois não estão mais entre nós. Falha minha escrever apenas agora sobre eles. Falha grande pois eles juntos, ou cada um em separado, representam o que há de mais incrível sobre vida e sobre humanidade. Na tristeza me permito resgatar coisas incríveis sobre esses dois sujeitos jaicoenses. Ou sobre esses dois filhos típicos de Várzea Queimada – mais do que típicos, eles estão entre seus precursores.

Josefa da Paixão Barbosa, Dona Zefa, Tia Zefa, Vó Zefa, sempre foi uma mulher guerreira. Lembro de um dia que cheguei em sua casa e pedi hospedagem. Ela já morava na cidade, em Jaicós, junto com seus filhos Ricardo e Manoel. Eu não conseguiria voltar para Várzea Queimada naquele horário. Ela me disse: “meu filho, dorme aqui. Se dormimos três, pode dormir quatro”. Ela me deu lugar para dormir, me serviu um jantar e me perguntou se queria banhar. Foi uma recepção que, em minha vida, não lembro de ter tido igual. Foram dias incríveis: não apenas dormi, mas passei mais dois dias com ela! Depois desses dois dias, vieram vários. Nos gostamos. Convivemos muito. Virei membro da família. Dona Zefa foi uma de minhas mães em Jaicós. Dona Zefa foi um dos exemplos da minha vida.

João da Cruz Barbosa, Seu João, Tio João, João, com ele não foi diferente. Desde quando cheguei em Várzea Queimada, Seu João me cuidou, me acolheu. Ao longo dos quase dois anos que passei com eles, este senhor não mediu esforços para me possibilitar uma boa vida entre os seus filhos, netos, amigos. Seu João me ensinou a ser naquele lugar. Seu João me apresentou as técnicas precisas do sertão. Seu João foi um mestre: essencial para o que penso, para o que sinto, para o que sou. Seu João e toda a sua família, me ensinaram a viver diferente. Seu João me apresentou o sentido do dividir.

Sou infinitamente grato a Dona Zefa e Seu João. Duas pessoas que admiro. E choro pela partida. Minha tristeza abrange a tristeza de uma comunidade que perde dois seres incríveis. Estou triste também por saber da importância dessas vidas para Jaicós.

Perdemos. Eles foram pessoas que não serão nunca substituídas. Com tristeza, perdemos, aos poucos, os nossos. Mas com alegria sabemos da contribuição!

Da Redação

 

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