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Morte do filho de Walkyria Santos faz pais ligarem sinal de alerta e especialistas pedem controle à “Geração TikTok”

Psicólogo fala ao OitoMeia e diz que há um número de jovens que possuem comportamentos suicidas, que passam a se mostrar mais “incentivados” até a tirar a própria vida

Criado em meados de 2016, porém com seu estouro em 2020, no período pandêmico e com as pessoas presas dentro de suas casas, o aplicativo de vídeo rápidos, Tik Tok virou febre entre os mais famosos. A partir disso, pessoas até então anônimas viram seu vídeos curtos e criativos as transformarem em verdadeiras celebridades.

Porém, parafraseando o clássico Homem-Aranha “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Isto é, quanto maior é a sua influência, maior serão as visualizações, comentários e consequentemente o lado ruim de tudo isso. É aí que entram os haters: são pessoas que utilizam as redes sociais para destilar ódio através de suas opiniões.

Nesta semana, um caso que causou comoção nacional foi o de Lucas Santos de 16 anos, filho da cantora de forró Walkyria. Ele teria tirado a própria vida após a não aprovação nas redes sociais. No decorrer desta matéria o assunto será retomado. O fato ligou um sinal de alerta: quantos Lucas Santos estão passando pela mesma situação no Piauí e em todo o mundo?!

Diversos estudos, especialmente voltados para as crianças e adolescentes apontam recomendações para os pais ficarem atentos quanto ao uso das redes sociais pelos menores. Há cerca de dois anos o aplicativo foi multado nos Estados Unidos por coletar ilegalmente dados de crianças e permitir que pedófilos tivessem acesso. Em janeiro deste ano, foi acusado de usar seus algoritmos para impulsionar conteúdos sensuais de novo sem bloqueios para menores de idade, como apontou reportagem recente da revista Veja.

Reportagem mostrou a história de Maria Eduarda, supervisionada pela mãe nas redes sociais: crianças que querem curtidas (Foto: Ricardo Borges / VEJA)

GERAÇÃO QUE SÓ QUER CURTIDAS!

Além disso, um gráfico compartilhado pelo comando policial de Sydney, na Austrália listou 15 aplicativos considerados mais perigosos para os jovens. Entre eles apareceu o Tik Tok, por apresentar controles de privacidade muito limitados, o que gera uma maior facilidade para se deparar com conteúdos inadequados para a faixa etária. Além de comentários com calúnias raciais, homofóbicas e preconceituosas em geral em que o agressor geralmente passa despercebido. O que, segundo especialistas, é um risco não apenas para crianças e adolescentes, mas para as famílias.

Silvimeire Saraiva que é pedagoga e psicóloga e atua na coordenadoria da juventude do estado do Piauí, destaca que a fragilidade de certos aplicativos e sites, como é o Tik Tok, e a não vigilância por parte dos pais e responsáveis leva à pratica do cyberbullying. A psicóloga falou ao OitoMeia inclusive que já há um número de jovens que possuem comportamentos suicidas, que passam a se mostrarem mais, digamos, “incentivados”, a cometerem atos como o de tirar a própria vida. Para Silvimeire, a disseminação de ódio é tão grande quanto os comentários positivos e / ou engraçados nas redes sociais.

“Em 2020 e em 2021, com a pandemia o tempo de tela desses jovens aumentou, e com isso o aumento do uso de redes sociais. Em que devemos tomar muito cuidado pois existem práticas postadas em sites, blogs online, e aplicativos, que aos jovens que já sofrem certo tipo de violência se tornam sujeitos ainda mais vulneráveis. Observamos que muitos deles já têm comportamentos suicidas por questões de depressão ou não, e também muitos jovens que agem por impulsividade, acabam sendo reforçados através desses sites, onde existem essas pessoas que apenas aparatam comportamentos amigáveis, mas disseminam o ódio”, afirma a pedagoga.   

Desde o início da pandemia, não são poucas as crianças e adolescentes que passam horas e horas nas redes sociais (Foto: Reprodução)

 

CASO LUCAS SANTOS: ATAQUE DOS HATERS

Na última terça-feira (03/08), o caso do jovem Lucas Santos de 16 anos, filho da cantora Walkyria, não apenas deixou em choque a sua família, mas internautas e usuários das redes no Brasil inteiro. O jovem tirou a própria vida após, segundo a própria mãe, ser alvo de uma série de ataques recebidos em um vídeo postado no Tik Tok. O vídeo mostrava ele e um amigo simulando uma tentativa de beijo. Estariam fingindo ser homossexuais, segundo contam familiares e pessoas próximas.

Lucas, ainda chegou a postar um vídeo explicando que se tratava de uma brincadeira. Mas os comentários continuaram. Horas depois, na mesma manhã, o filho da cantora foi encontrado já sem vida. Walkyria Santos e familiares iniciaram uma campanha para aprovar um projeto de lei na Câmara dos Deputados que criminaliza atuação de “haters” (pessoas que destilam comentários de ódio) na internet. O projeto de lei leva o nome do adolescente. O psicólogo Valdimir Lima falou ao OitoMeia sobre o assunto. Ele explicou que na fase da adolescência as emoções são mais potencializadas e no caso do jovem, com a exposição intensa, a situação foi agravada. O psicólogo destacou ainda que o suicídio é um fenômeno multifatorial. Para ele, a responsabilidade é dos pais, que costumam “dar tudo” às crianças.

“As pessoas normalmente não cometem o suicídio por um único motivo. Sempre é uma construção são vários fatores. Por isso é subjetivo de cada pessoa. O que temos observado é a falta de gerenciamento das emoções que não é promovido principalmente pelas famílias, que geralmente dão tudo às crianças, sendo a política do “Fast Food”: tudo o que eu quero eu recebo imediatamente. O que não ajuda na construção do repertório emocional de resistir às frustrações e entender que isso passa”, afirmou o psicólogo.

Lucas Santos em post nas redes sociais que gerou comentários de haters: a mãe culpou o Tik Tok (Fotos: Reprodução)

O ‘SOFRIMENTO’ DA IDOSA VERSUS O DA ADOLESCENTE

Com seu principal público adolescente, mas não exclusivo, Valdimir Lima destacou em entrevista ao OitoMeia dois casos curiosos que ocorreram em suas sessões. Sem citar nomes, para preservar a saúde e a integridade dessas pessoas. Ele relatou sobre uma idosa de 74 anos que cuidava de seu esposo em estado terminal e o viu partir e sobre uma adolescente de 13 anos que postou uma foto e não recebeu a quantidade esperada de curtidas.

“Quem sofria mais? a senhora que cuidava do esposo e o viu falecer ou a menina que não conseguiu a quantidade ideal de likes? Eu vendo as duas, eu diria que a menina sofria mais. Com isso eu digo que o sofrimento é subjetivo, depende de como. A senhora de 74 anos apesar da sua situação ser mais difícil, tinha mais recursos para enfrentar a situação. Ela entendia que iria passar. Temos que entender e passar para as futuras gerações a como enfrentar esses tipos de situações e repassar que existem soluções”, conta Valdimir.

Jovens e adolescentes cada vez mais “presos” ao celular, às redes sociais: “Temos que entender como enfrentar”, disse psicólogo (Foto: Reprodução)

“A VIDA NÃO É MAIS A REAL, É A A VIDA DAS REDES SOCIAIS”

O professor e psicólogo Cristiano Nabuco, especialista em emoções escreve em suas obras sobre a virtualização do ser, que é quando a pessoa dedica a maior parte do seu tempo a uma função específica, ou seja, se cerca de 90% do seu tempo é em redes sociais, então qualquer problema ou coisas boas relacionada a esses meios serão potencializados.

“A vida da pessoa não é mais a real, pois ela passa mais tempo conectada, esse é o processo de virtualização do ser. Por isso, esse sofrimento relacionado às rede sociais é tão forte, ele é proporcional a importância que damos a isso”, destaca Valdimir Lima, que afirma que esse processo é muito grave, pois o meio da internet por vezes maquiam os despejos de ódio e que são facilmente desapercebidos.

QUE TAL FECHAR A CONTA DA SUA FILHA, SEGUIDA POR 2 MI?!

Outro caso recente que viralizou na redes sociais foi o da médica Fernanda Rocha Kanner, que excluiu a conta com mais de 2 milhões de seguidores de sua filha, Nina Kanner. Segundo ela o conteúdo inicialmente compartilhado pela filha era de voo livre de animais, e com o passar do tempo ela foi perdendo sua essência e se tornando ‘robótica’ e com conteúdo fútil. A mãe ficou preocupada porque a filha parecia querer essa aprovação. Uma preocupação com a aprovação das pessoas, com os likes, curtidas e compartilhamentos.

“Eu quero que a Nina entenda que o valor dela vem de dentro e não ao que os seguidores atribuíam a ela. Ela sempre lidou muito bem com crítica; é muito resiliente e dava risada dos inevitáveis haters. Essa parte não me preocupava. O que mais me angustiava era a bajulação. Era muita, muita ‘poluição de ego’ o dia inteiro e pouco aprimoramento interno. Não queria jamais que ela acreditasse que beleza era o que ela tinha de mais especial”, afirmou a mãe de Nina em entrevista ao portal G1. Fernanda Rocha Kanner, vale ressaltar, foi elogiada, mas não deixou de ser alvo de haters.

Mãe de Nina Kanner foi elogiada por alguns, mas atacada pelos haters nas redes sociais após apagar a conta da filha do Tik Tok. (Fotos: Reprodução)

PAIS, ADULTOS, ATENÇÃO: FILTREM TUDO O QUE SEUS FILHOS VEEM!

A psicóloga Edkamila Sobrinho, pincela que nas redes sociais existem muitos julgamentos, críticas, comparações e cobranças. E que  esses pontos influenciam diretamente na saúde mental, e podem trazer consequências graves para o ser humano. Como depressão, ansiedade generalizada, baixa autoestima e até mesmo o atentado contra a própria vida.

Por isso ela orienta aos pais a sempre estarem atentos aos conteúdos visto pelas crianças e adolescentes, além de ser necessário o monitoramento do acesso, e a estimulação ao uso da empatia, e que há casos em que o ficar ‘offline’ das redes sociais é o necessário para o bem da saúde mental dos usuários.

“Se você faz uso de redes sociais, é importante filtrar os comentários que você recebe. Se permitir ficar em off-line em alguns momentos, perceber que nesse meio existem pessoas tóxicas e que fazem julgamentos sem pensar em quem está do outro lado, não faça comentários desnecessários, você não sabe como o outro está por dentro. E principalmente se a internet influencia de forma negativa sua vida ou seus comportamentos, (você se sente angustiado, triste, meio que sem rumo) procure ajuda profissional”, conclui  a psicóloga.

FONTE: Oito Meia

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