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Sistema prisional do Piauí: uma bomba prestes a explodir na cara da sociedade

Se você acha que não tem nada a ver com os últimos motins ocorridos no sistema prisional do Piauí pode tirar o cavalinho da chuva. Você tem! E muito! Nós temos! Lembrando que o sistema é uma bomba-relógio que rola como uma bola de neve, morro abaixo, e que está prestes a estourar.

Fogo em pavilhão da Casa de Custódia. Imagem do Sistema Prisional do Piauí no final de 2015. Foto: Sinpoljuspi

E por que tudo isso tem ocorrido? Há culpados? E as soluções?

O sistema prisional é uma sociedade bem diferente da dita “sociedade fora das grades”. Tem leis próprias, funcionamento diferenciado e quem está encarcerado ou trabalha com encarceramento sabe que pouco é dito, pouco é falado. Há anos há a certeza da falência do sistema. Ele padece de superlotação. É quase um mito a recuperação de presos. E pratica-se, quase em perfeição, a política de jogar a sujeira para debaixo do tapete. O problema que o tapete está com uns quatro metros de altura.

“Vai morrer”: termo utilizado pelos presos da Casa de Custódia. Anúncio do caos? Foto: Sinpoljuspi

O sistema concentra a “escória” da sociedade. O pior que é um depósito, terminando por ser um curso de pós-doutorado em Bandidologia. E só damos as caras para ele quando há uma série de motins como os de agora.

E olhe lá que o sistema prisional piauiense é um dos menos complicados do país. Isso é dado pela construção histórica da categoria dos bravos agentes penitenciários do Piauí, composta quase que totalmente por funcionários concursados, com curso superior (ao menos 30% têm pós-graduação) e um amor incondicional por uma das carreiras mais estressantes que existe.

Os últimos motins nas principais unidades prisionais de Teresina e Norte do Piauí são dados como estopim de todos esses anos de falhas. Nunca as unidades prisionais (presídios e casa de custódia) se amotinaram de forma sincronizada e promoveram tanta destruição. Tudo isso vem no bojo de que as unidades estão jogadas ao léu, visto que os agentes penitenciários estão em greve.

Não há comando na parte interna das unidades.

Sem os responsáveis pela carceragem de braços cruzados os presos tomaram as rédeas. Aliás: já rola muito celular, droga e mortes justamente porque o sistema está quase que descontrolado no seu dia a dia. Presos demais para estrutura de menos. O que vira um caos e o que torna a convivência civilizada praticamente impossível. Sem falar na midiatização de que são lugares de tortura. Lembrando que os mesmos que vão à mídia dizer que o sistema prisional piauiense é lotado de torturadores esquecem de cobrar no dia a dia apurações e a melhoria das unidades, das condições de trabalho e de dignidade. Falo cobrar e não só dar entrevistas para se aparecer e acusar X ou Y.

A Casa de Custódia de Teresina, por exemplo, bibelô de todos os levantes e lugar em que está a maioria dos mais perigosos bandidos do Piauí, é exemplo disso. Uma construção de mais de 30 anos, feito de remendos e que está com o triplo de sua capacidade.

A literatura brasileira sobre sistema prisional está lotada (mais que os presídios do Piauí) de histórias que mostram o que não deve ser feito. Parece que falta leitura dos gestores do sistema. Não quero acreditar que pequem por maldade.

Destruição de pavilhão da Casa de Custódia de Teresina. Foto: Sinpoljuspi

E quando o dever de casa não é feito: pode-se ver o que está acontecendo.

Graças a Deus não ocorreram mortes. Mas não ache estranho se isso não ocorrer nas próximas horas. Em cada presídio há, no mínimo, umas 200 armas caseiras (conseguidas pela retirada da estrutura de ferro de camas e paredes), não duvidem se haja armas de fogo e, tenham certeza, muita disposição de haver caos. E por que não evitar tudo isso? Com a resposta o Governo do Estado do Piauí.

Ou se tomam providências enérgicas ou a qualquer momento poderemos ser surpreendidos com uma matança coletiva. Somente no sistema prisional piauiense há três grandes facções criminosas. Elas se odeiam. Para não se matarem são colocadas em alas diferenciadas.

Vídeo do motim nesta madrugada da Penitenciária de Parnaíba. CENAS FORTES: 

A noite vai cair, podem ter certeza, as grades do Sistema serão batidas, podem ser arrebentadas e muito fogo pode tomar conta dos presídios. Se a Polícia Militar entrar não será para dar suco de acerola. Pode haver confrontos, uma batalha e aí você sabe o fim. Além disso, tocando fogo em pavilhões e alas os presos podem se matar (vide o caso dos adolescentes, no início deste século, no Complexo do Menor).

Os avisos foram dados! E, sociedade, por favor, não vire as costas ao problema!

Que o sistema mude e possa ser visto como lugar de recuperação!

POR: Orlando Berti / O Olho

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