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39% dos presos do Piauí estão com sarna e agentes temem que doença se espalhe para população

Por várias vezes, o OitoMeia já mostrou a situação degradante do sistema penitenciário piauiense. O descaso da vez é uma multiplicação de casos de sarna entre os internos, virando tema de reportagem especial do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, confirma o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Piauí (Sinpoljus-PI), na manhã desta terça-feira (06/06).

O palco da reportagem da TV Globo será a penitenciária de Esperantina, a 188 km ao norte do Piauí, e na Colônia Agrícola Major César, localizada nas imediações de Altos, próximo a Teresina. Em ambas, os agentes penitenciários denunciam o descaso com a saúde dos internos e dos funcionários que atuam nos locais.

Secretaria de Justiça do Piauí (Sejus-PI) destaca que toma medidas para amenizar os casos, informando a distribuição de mil frascos e 2 mil comprimidos ao combate da doença (Foto: Divulgação Sinpoljus-PI)

“É uma epidemia mesmo. A coceira passa até para nós [agentes penitenciários]. Teve um colega que pegou e passou dias com a doença. O risco é para todo mundo”, diz ao OitoMeia Jefferson Dias, diretor de Assuntos Sindicais do Sinpoljus-PI. “A reportagem foi em somente duas penitenciárias, mas todas têm casos da doença: umas com mais e outras com menos”, completa Zé Roberto, presidente da categoria.

Zé Roberto afirma que dados da Sejus dão conta de que 39% da população carcerária está com a doença, o que corresponde a 1,6 mil presos. “Estamos, desde abril, falando sobre isso com a Sejus. Tememos que isso se espalhe entre nós e entre a sociedade, pois muitos visitantes correm o risco de contaminação e podem espalhar a doença pelo estado”, desabafa.

Doença pode evoluir para infecções graves (Foto: Divulgação Sinpoljus-PI)

A Secretaria de Justiça do Piauí (Sejus-PI) destaca que toma medidas para amenizar os casos, informando a distribuição de mil frascos e 2 mil comprimidos ao combate da doença. Além disso, recursos do Ministério da Saúde serão destinados ao sistema prisional nos respectivos municípios: Bom Jesus, São Raimundo Nonato, Esperantina, Parnaíba, Floriano, Oeiras, Picos e Altos.

Medidas de higienização também estão sendo tomadas, segundo a pasta, como ação preventiva. “Temos responsabilidade com os detentos, com a categoria e com a sociedade. Por conta disso, o Estado tem a obrigação de cuidar dos privados de liberdade, dando condições de permanência nas unidades prisionais e de trabalho aos agentes penitenciários”, critica o presidente do Sinpoljus-PI.

ESPECIALISTA ESCLARECE

O OitoMeia conversou com o infectologista Kelson Veras. Ele destaca que não há necessidade de maiores riscos à população. “Sarna não é nada mais nada menos que coceira ou ‘pira’, como é chamada aqui no Piauí. O principal problema é o descaso público com o sistema carcerário, devido falta de limpeza, banho, provável falta de roupas de cama ou do próprio vestuário dos internos”, explica o especialista.

Além do tratamento médico, a escabiose (nome técnico) pode chegar ao fim em ambientes cujas condições de saneamento existam. Caso contrário, a doença por gerar infecções mais graves à pele.

CONFIRA A NOTA DA SEJUS NA ÍNTEGRA

Assim que os casos de escabiose foram relatados, a Secretaria de Estado de Justiça (Sejus) iniciou, imediatamente, o atendimento aos detentos que apresentaram sinais de contágio.

De acordo com a Coordenação de Saúde Prisional da Sejus, foram distribuídos 1.000 fracos de benzoato e 2.000 comprimidos de ivermectina aos presídios. O atendimento médico já está sendo feito, portanto.

Esses medicamentos são adquiridos por meio de solicitação da Secretaria de Justiça à Secretaria de Saúde. Nesse sentido, mais 1.000 frascos de benzoato foram solicitados, para dar continuidade ao tratamento.

A Secretaria de Justiça também está se articulando para adquirir os medicamentos diretamente, ou seja, sem intermédio da Secretaria de Saúde, o que agilizará o processo.

Destacamos que a Secretaria de Justiça promoveu a adesão dos municípios de Bom Jesus, São Raimundo Nonato, Esperantina, Parnaíba, Floriano, Oeiras, Picos e Altos à Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP).

Esses municípios receberão recursos do Ministério da Saúde para investimento em saúde prisional. Destes municípios, inclusive, Esperantina, Altos e São Raimundo Nonato já cadastraram equipes da Estratégia Saúde da Família e aguardam habilitação pelo Ministério da Saúde.

A Secretaria de Justiça também está adotando medidas para higienizar os presídios (limpeza de celas com produtos desinfetantes), por prevenção, de modo a evitar que o contágio se alastre, prevenindo a ocorrência de novos casos.

Segue, abaixo, quantidade de medicamentos contra escabiose solicitados por cada unidade prisional (Obs.: Não representa o número de presos com a doença, mas tão somente a quantidade de medicamentos para o tratamento adequado dos casos existentes):

Penitenciária Irmão Guido: 500

Casa de Custódia de Teresina: 500

Casa de Detenção de Altos: 100

Colônia Agrícola Penal Major César Oliveira: 70

Penitenciária Regional de Esperantina: 300

Casa de Detenção de São Raimundo Nonato: 150

Observação: Com o fim do período chuvoso, houve significativa redução nos casos de escabiose.

FONTE: Oito Meia

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