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Jackson Cristiano: artista piauiense transforma acervo pessoal em Museu

Imagino o artista num anfiteatro

Onde o tempo é a grande estrela

Vejo o tempo obrar a sua arte

Tendo o mesmo artista como tela…”

A estrofe é da canção “Tempo e artista”, composta por Chico Buarque e lançada em 1993. Chico não conheceu pessoalmente o artista plástico Jackson Cristiano Lopes, mas a sua composição reflete bem a vida desse ilustre piauiense.

Natural de Pedro II, Jackson Cristiano tem o olhar aguçado para o mundo que o cerca, enquanto o seu coração e a sua mente são voltados para a arte. Apesar dos 48 anos, Jackson Cristiano Lopes tem o coração de menino, daqueles que quando descobre algo novo: aprecia, desbrava e interpreta.

Formado em Letras e em História, Jackson chegou a lecionar para instituições de ensino, mas há alguns anos decidiu se dedicar completamente a arte e em manter vivo o patrimônio artístico do Piauí.

Jackson Cristiano, idealizador do espaço
Jackson Cristiano, idealizador do espaço

“Coração de tinta”

Aos sete anos de idade, o artista fez os primeiros rabiscos no papel. Segundo Cristiano, o maior incentivador que teve na infância para esse universo foi o pai, Salvador Lopes, falecido há quase 20 anos. Como mestre de obras, Salvador compreendia que Cristiano tinha um talento nato para as cores.

“Ele sempre me incentivou muito, mesmo sem saber o que se tratava”, declarou. Recordando certa lembrança da época, o artista relatou que o pai uma vez o entregou um embrulho de surpresa. “Certo dia, meu pai chegou do trabalho e me entregou um embrulho. E quando abri eram cinco vidrinhos de tinta guache e um pincel escolar. Apesar do gesto, meu pai não sabia que aquilo não daria certo para pintar uma tela. mas a vontade dele de me incentivar era tão grande que ele comprou a tinta guache e me deu para pintar. Então não parei mais”, narrou.

Representação do pai de Jackson Cristiano, feita pelo artista Rogério Albino. Foto: Marta Alencar
Representação do pai de Jackson Cristiano, feita pelo artista Rogério Albino. Foto: Marta Alencar

Na família, alguns parentes de Jackson também desenhavam. A arte sempre o acompanhou durante a sua vida. Aos 16 anos, conheceu a tintura a óleo e desde então começou a pintar as primeiras telas. “Durante todos esses anos, pesquisei bastante para aprimorar meu trabalho”, disse.

Intitulando-se como autodidata, o ceramista fez várias experimentações artísticas ao longo dos anos e também teve fortes influências de estilos. Mas sempre preferiu fugir dos padrões, por considerar a arte sem limites e/ou regras.

“Desenho em qualquer lugar e em qualquer situação. Se eu tiver um papel, um lápis e/ou uma caneta, então… É mais fácil, perder a concentração no que estiver fazendo para dedicar-me a fazer um desenho do que o contrário. Inclusive era um grande dilema, quando eu estudava. Porque as disciplinas que envolviam cálculos e que exigiam mais atenção, eu tinha dificuldades de aprender na escola. Por isso desenvolvi mais interesse para a área de Humanas, porque podia ler o conteúdo depois do que pelos números”, confessou.

Jackson mescla o regionalismo, figuras femininas e animais para expressar seu talento. “Fiz muita coisa com a temática regionalista. E depois fui percebendo que gostava de pintar e representar figuras femininas e pássaros. Não sei exatamente o porquê dessa relação. Mas pinto bastante esses dois elementos. É algo natural, espontâneo, que não segue uma linha ou tema”, relatou.

Outra figura de destaque nas obras e também no acervo pessoal de Jackson Cristiano é o São Francisco. “Não me considero uma pessoa religiosa, mas gosto da figura desse santo, por causa da história de vida dele”, contou.

E em menção ao santo favorito, Jackson Cristiano montou um espaço dedicado às artes visuais do Piauí, chamado de “Engenho Cultural São Francisco”, que fica localizado na BR 343, sentido Parnaíba/Teresina, em frente ao Zé da sucata e posto São Raimundo, numa construção de muro alto em tijolos, com entrada na rua principal do Cacimbão.

Engenho Cultural São Francisco: a arte em todo lugar

Há três anos, o artista decidiu viver em Parnaíba, apesar de ter nascido em Pedro II e ter morado na Paraíba.

– Mas por que, Parnaíba? – Segundo Jackson, um dos principais motivos é porque Parnaíba é uma região do Piauí que mais recebe turistas durante todo o ano. Mas também existe outro motivo determinante. “Amo o mar e não ia querer viver em um lugar longe do mar. E Parnaíba reúne tudo que aprecio, inclusive é uma terra de grandes artistas”, destacou.

Obra do Museu idealizado pelo artista. Foto: Eunice Costa
Obra do Museu idealizado pelo artista. Foto: Eunice Costa

O espaço é uma iniciativa própria do artista e possui um conjunto de duas casas em estilo colonial, sendo uma delas (a casa azul) destinada ao museu, onde estão reunidas as pinturas e esculturas de grandes artistas da terra, como João Borges e Rogério Albino. Enquanto a outra (a casa vermelha) é onde funcionam o ateliê cerâmico e a loja da Terracota Art Desig.

No local, também se encontram os belíssimos bangalôs, idealizados pelo arquiteto Aristóteles Ibiapina (Tothe). Eles são erguidos sobre hastes de eucalipto tratado e recobertos com a palha da prodigiosa árvore símbolo do Piauí, a carnaúba.

Da pintura para a cerâmica

Em meados da década de 90, Jackson Cristiano fez um curso de pintura rápida na Universidade Federal do Piauí (UFPI), com o artista plástico Péricles Aguiar. “Ele foi o responsável por mostrar como fazia peças em modelagem em cerâmica. E isso fez eu me interessar por esse tipo de material”, mencionou.

Mas a partir de 2003, após uma visita a oficina cerâmica do mestre pernambucano Francisco Brennand, o artista mergulhou de vez como ceramista. As jóias em cerâmica são as peças mais consumidas por quem visita o local.

Jackson Cristiano, idealizador do espaço. Foto: Eunice Costa
Jackson Cristiano, idealizador do espaço. Foto: Eunice Costa

“Reconheço até a dificuldade em fazer jóias em cerâmica, porque eu mesmo não tenho o costume de usar. Mas a jóia em cerâmica é um importante experimento na questão do esmalte e da textura. Além disso, eu precisava fazer aqui um produto que pudesse ser transportado e/ou levado, pois as pessoas que vêm de fora não vão andar com peças grandes. Por isso decidi criar e vender as jóias, principalmente porque muitas mulheres freqüentam a loja”, enfatizou o artista, que também contou que a esposa Eunice Costa opina sobre a confecção das jóias.

Jóias em cerâmica produzidas pelo artista. Foto: Marta Alencar
Jóias em cerâmica produzidas pelo artista. Foto: Marta Alencar

Além da cerâmica, das pinturas e das esculturas, o artista também está experimentando o vibro e confeccionando produtos que podem ser utilizados no lar.

Jackson Cristiano é, sem dúvidas, um artista de coração nobre. “Que privilégio eu tive de conferir de perto o trabalho dele e mais ainda de apreciar tudo que ele faz”. Salvador, o pai dele, lá no céu deve estar muito orgulhoso do filho que tem.

POR: Marta Alencar / Portal AZ

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