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Apagão: um risco iminente

Pelas projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a situação mais crítica deve acontecer na segunda quinzena de novembro de 2021.

Crédito: João Vítor Heinrichs

O Brasil passa pela pior crise hídrica dos últimos 91 anos, a qual provocou a redução do volume de água nos reservatórios das hidrelétricas a níveis verdadeiramente críticos. Com a redução da energia produzida a partir das hidrelétricas e, diante da necessidade de atendimento da demanda energética, temos acompanhado a inserção na matriz elétrica brasileira de energia advinda das termelétricas, uma fonte relativamente mais cara do que qualquer outra fonte convencional, sem falar no seu impacto ambiental significativamente maior. Apesar disso, no cenário atual, é a fonte mais eficiente no sentido de garantir o abastecimento de energia elétrica aos consumidores brasileiros. Com a continuidade da escassez de chuvas nas bacias dos rios que contém os reservatórios das hidrelétricas existe um risco iminente de termos um apagão energético no país. Para alguns especialistas do setor elétrico a questão a ser respondida não é se teremos o apagão, mas quando ele acontecerá.

Pelas projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a situação mais crítica deve acontecer na segunda quinzena de novembro de 2021. O ONS elaborou uma nota técnica (NT-ONS DGL 0093/21), na qual traça cenários da situação para o período entre agosto e novembro 2021.O ONS simulou dois cenários, os casos A e B. O caso A se caracteriza como um cenário conservador e disponibilidade térmica (aquilo que já existe). O cenário B se caracteriza por uma projeção superior, disponibilidade térmica e ainda recorre a energia importada de países vizinhos. O documento conclui que para o caso A, mesmo com o esgotamento de recursos hidráulicos das regiões Sudeste e Centro-Oeste e com a maximização da energia transferida das regiões Norte e Nordeste para região Sudeste, ainda assim, os recursos serão insuficientes para o atendimento ao mercado interno de energia. Para o caso B (com oferta adicional incorporada), há um ganho no que se refere ao armazenamento de energia eliminando o desperdício encontrado no caso A. Ainda para o caso B, o atendimento energético somente será viabilizado a partir da incorporação de recursos adicionais, sobretudo de mais termelétricas (grifo nosso). O documento finaliza recomendando o aumento da disponibilidade de energia vinda de termelétricas e um maior volume de importação de energia da Argentina e do Uruguai. Recomenda ainda a adoção de medidas que induzam à redução voluntária do consumo de energia por parte dos consumidores.

Diante dessa realidade qual é o risco real de um apagão no setor elétrico? Inicialmente, precisamos diferenciar os termos apagão e racionamento. O apagão acontece de forma inesperada e, em geral, é provocado por um contingenciamento no sistema elétrico (curto circuito, descarga atmosférica, falhas localizadas na geração, transmissão ou distribuição da energia). Temos como exemplo de apagão, o episódio que ocorreu, no final de 2020, no estado do Amapá. O racionamento é uma iniciativa do governo e ocorre de forma compulsória, quando é necessário reduzir o consumo de energia elétrica, ou seja, quando o sistema não tem mais condições de atender a demanda de energia elétrica do país. Ocorre o que chamamos de seletividade de cargas. Em linhas gerais é como se fosse um rodízio no abastecimento de energia. Assim, em um determinado período parte do Sudeste pode ser atendida energeticamente, enquanto parte do Nordeste é penalizado ou para garantir o abastecimento da região Norte é preciso desabastecer parte do Centro-Oeste.

Na nossa avaliação o risco do apagão existe e ele é real, sobretudo na segunda quinzena do mês de novembro quando chegaremos a uma situação que irá beirar o caos. É verdade que o governo pode implementar algumas ações com vistas a reduzir essa probabilidade, tais como aumentar (infelizmente) a participação, na matriz elétrica, das termelétricas e comprar ainda mais energia da Argentina e do Uruguai.
A região Sudeste é a mais crítica com relação ao abastecimento de energia elétrica. A mesma só ainda não colapsou porque as regiões Norte e Nordeste, sobretudo esta última, tem enviado sua energia excedente, graças à geração de energia eólica. O investimento em energias renováveis também precisa ser considerado, sobretudo a energia solar fotovoltaica, a qual pode reduzir a dependência em relação às termelétricas no período diurno. Finalmente, talvez a medida mais impactante seja uma campanha promovida pelo Governo Federal para que os consumidores desenvolvam ações de consumo eficiente e uso racional da energia elétrica. Nessa perspectiva, estamos falando de uma poupança energética que seria criada para fins de não sacrificar sistema elétrico brasileiro.

FONTE: Meio Norte

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